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Reflexão sobre a Semana do Pensamento


No passado dia 22 de fevereiro celebrou-se o dia do Pensamento. Com isto o Núcleo de Formação e Cultura da Associação de Estudantes da ESEnfC desenvolveu, pelo segundo ano consecutivo, a Semana do Pensamento. Esta atividade constituiu em dois segmentos, o primeiro segmento ocorreu de 17 a 21 de fevereiro, onde foi colocada uma caixa na entrada dos polos A e B, com a finalidade de estudantes colocarem dentro da caixa os seus pensamentos. Como dizia a própria apresentação da atividade “Partilha o que vai aí dentro, pode ser pudim, pode ser pão bolorento, pode ser o que te assusta, o que tem põe rabugento”. Este poema tinha o objetivo de demonstrar às pessoas que não precisam de ficar à espera por uma ideia brilhante para participar. “Apetece-me comer pudim” também é pensamento bastante válido e algo, que parecendo que não, é capaz de nos mover. Os Pensamentos são Fictícios. E irão continuar a ser até que nós os exteriorizemos. Dizer que nada é verdade é reconhecer que as bases e as fundações da nossa sociedade, e mesmo as nossas próprias, são frágeis. Prontas a ruir a qualquer momento, perante os nossos próprios olhos, se o impacto for forte o suficiente. Por isso, devemos procurar ser pastores e não ovelhas do rebanho. Temos de estar preparados para esse impacto, por muito que não sejamos capazes de o impedir. Dizer que tudo é permitido é afirmar que nós somos os arquitetos das nossas próprias vidas e ações, e para tal, temos de estar preparados para viver e lidar com as suas consequências, sejam elas gloriosas ou trágicas. O segundo segmento desta atividade decorreu na semana seguinte, de 24 a 28 de fevereiro, e constituiu na exposição nos halls de entrada de cada polo dos pensamentos colocados nas caixas pelos estudantes ao longo da semana anterior. Confesso que fiquei bastante satisfeito com o decorrer desta atividade. O ano passado no polo A, tinham sido colocados 3 pensamentos numa semana inteira, dois dos quais meus para a caixa não estar vazia e outro de um amigo meu, que praticamente mandava-me ir dar uma volta. Este ano, só no polo A, tivemos um total de 49 pensamentos. Numa escola com tantos alunos como a nossa pode não parecer muito, mas comparado ao ano passado, foi uma vitória. Realmente, as coisas constroem-se aos poucos.

No entanto, devo dizer que o placar onde foram afixados os pensamentos foi, se tanto, um pouco polémico. Primeiro, existiram alguns estudantes que mesmo passando pelo hall de entrada todos os dias, não repararam que o placar se encontrava em exposição. Segundo, existiram algumas pessoas que disseram que o placar era vergonhoso, que os pensamentos em exposição não eram pensamentos de alunos do ensino superior, se é que se podiam chamar de pensamentos sequer. Que o placar contribuía 0% para a cultura de toda a gente, e que aqueles pensamentos eram “nódoas”. Auch! Sim, sim! Compreendo o vosso ponto de vista. Também eu, um dos membros organizadores desta atividade, gostava de ver o placar cheio daquilo que as pessoas chamam de “pensamentos brilhantes”. Mas honestamente, gosto muito mais de viver na realidade, aquilo que chamamos o cruo, puro e duro. Quer queiramos, quer não, os pensamentos que foram afixados são os nossos pensamentos. Pensamentos de alunos do ensino superior, quer dizer, pelo menos não me recordo de ter visto nenhuma visita de alunos de secundário à nossa escola. A verdade é que os pensamentos afixados são os pensamentos que temos, por muito que nós gostássemos que fosse diferente. É o que temos.

O objetivo da semana dos pensamentos é escrever pensamentos. E como é obvio, qualquer tipo de pensamento. Acredito e defendo vivamente em algo chamado de Liberdade de Expressão. Se realmente queremos ter esses pensamentos brilhantes temos de estar abertos para esses pensamentos menos bons, essas tais “nódoas”.

Mas então vamos dar uma breve vista de olhos em alguns pensamentos que foram afixados. Começando por “A vida irá trazer-me melhores dias”. Gosto. Um pensamento otimista que diz que por detrás destas nuvens todas haverá sempre um sol dentro de nós. A seguir “Se há coisa que me chateia, é a capacidade do ser humano criar situações constrangedoras, quando tudo na verdade é tão simples. Mas o pessoal complica. Espiral de Paradoxos.” Bem, acho que este pensamento fala por si, não é verdade. “Em que língua é que os surdos pensam?” Hmm…realmente não sei, uma questão pertinente. “Eu sei muito bem aquilo que quero. Aquilo que eu quero é assustador”. Interessante, por acaso dizem que se os nossos sonhos não nos assustam é porque não estamos a sonhar alto o suficiente. “Penso, logo desisto.” Uma paródia da famosa frase de Descartes. Já me disseram que penso bem, mas que penso demais, o que nem sempre ajuda não. “A qualidade que mais gosto nas pessoas é saberem que são necessárias” Ah sim! Este aqui foi um amigo meu que escreveu. Disse-me que precisava de falar comigo sobre um assunto e no fim da conversa perguntei-lhe se não queria escrever nada para a Semana do Pensamento. Fiquei contente ao saber que era isto que passava pela sua cabeça nesse momento. “O tiramissu da minha mãe <3.” Por acaso, nas raras vezes que vou a casa, a minha mãe tem por hábito fazer-me um belo arroz de pato, e o facto de saber isso já me serve de conforto para o resto do dia se necessário. Portanto sim, a comida da “minha” mãe <3! “Pudim para o Soneca.” Bem, andei a dizer às pessoas que podiam escrever só pudim se quisessem, estive a pedi-las. É que eu nem gosto de pudim sequer. “Diz a verdade, só assim pode existir luz.” Dizem que quando mentimos, quer seja aos outros ou a nós próprios, estamos a afastar-nos da realidade e do nosso verdadeiro “Eu”. “Uma nova etapa para o fim de uma fase é o começo de uma grande aventura!” Para os estudantes do 4º ano falta pouco mais de 3 meses para acabar o curso, e sim este fim só será, no fundo, o começo de mais uma grande aventura! “Positividade.”, “Força! Tu consegues!”, “Aproveita! Passa rápido.” Assino e subscrevo estes 3 pensamentos, temos todas as ferramentas necessária dentro de nós, vamos lá! Nós conseguimos! “Deitar tarde e cedo erguer, dá olheiras podes querer!” Eu que o diga! Aquele estudo de caso não se vai fazer sozinho. “Sinceramente, acho que vou desistir do curso! ☹” Pergunto-me se a pessoa que escreveu este pensamento já falou disto com alguém ou, se simplesmente, foi a forma de libertação que a pessoa em questão encontrou. “Não sou Homem, sou Dinamite.” Ah, uma frase proferida por Friedrich Nietzsche, um filósofo do antigo império prussiano, que diz não passarmos de um barril de pólvora prestes a explodir a qualquer momento. Uma referência ao coração humano e ao poder das nossas emoções.

Parecendo que não, dos pensamentos mais controversos afixados no placar foi um que dizia só “pastel de nata.” Ao ser confrontado com a utilidade e finalidade do placar, fui levado com a pessoa em questão a ir ver os pensamentos afixados no placar. Nisto a pessoa apontou para o pensamento “Pastel de Nata”, riu-se e perguntou-me de seguida: “Então diga lá o que é que este pensamento contribui para mim enquanto pessoa e para a minha formação?” ao qual respondi: “Bem, você riu-se ao ler esse pensamento, e acredito que às vezes, isso é o suficiente.” Ao retirar os pensamentos afixados na última sexta, reparei que tinha alguém atrás de mim a observar o placar. Perguntou-me no que consistia a atividade, e após a explicação, voltou a observar o placar. Apontou para um pensamento e voltou-me a fazer uma questão, desta vez acompanhada com uma cara feia: “Vocês metem aqui qualquer coisa?”. Confesso que nesse momento não pude deixar de pensar “Opá, não me digas que é o pastel de nata outra vez”, mas não. O pensamento para que essa pessoa apontava era o seguinte “Tenho medo de conduzir em Coimbra.” Fiquei confuso ao olhar para o pensamento e respondi “Sim, mas o que está a ver de errado com esse pensamento?” questão à qual não obtive resposta. Realmente, não sabemos o que vai na cabeça dos outros, no que é que eles estão a pensar, e para isto, gostava de dar a sugestão de para o ano, essas mesmas pessoas colocarem o seu pensamento na caixa, mesmo que seja a dar uma opinião negativa sobre o assunto. Acredito que desta forma, conseguiríamos direcionar estas críticas construtivas de uma melhor forma.

No entanto, também existiram pessoas que me vieram dizer que adoraram a iniciativa e que já tinham estado por lá a cuscar. Realmente, irão sempre existir pessoas que são contra e pessoas que são a favor daquilo que fazemos, o que nos cabe a nós próprios é saber o que fazemos, o seu porquê e sabermos defendê-lo perante terceiros.

E se, verdadeiramente existe uma cultura que eu, o Núcleo de Formação e Cultura e a própria Associação de Estudantes estamos aqui para defender, é a Cultura dos Estudantes. A Cultura de todos os estudantes da ESEnfC. Aquilo que significa ser estudante na nossa querida escola. Sim, da Maior, Melhor e mais Antiga Escola Superior de Enfermagem do país! É quem nós somos, faz parte de nós. Tudo o que somos hoje como escola, deve-se a todo um trabalho, esforço e dedicação daqueles que vieram antes de nós, quer fossem essas pessoas estudantes, professores ou presidentes. Existiram cá pessoas antes de nós, antigos estudantes que nos provaram que existe uma saída, uma luz ao fundo do túnel. Um dos objetivos da Semana do Pensamento é mostrar aos atuais estudantes que não estão sozinhos, que existe alguém que neste momento pode estar a passar pela mesma situação que nós próprios, que existe alguém que pensa exatamente como nós.

Um dos pensamentos sobre o qual me debati sobre a sua afixação não foi um pensamento perverso de todo. Este pensamento dizia “Cada vez mais penso na desilusão que esta escola dá aos seus alunos. Temos medo de falar e apresentar as nossas ideias, as nossas queixas, com medo que ao fazê-lo, este se reflita nas nossas notas e avaliações.” E sim acredito que sejam comentários como “Isto não são pensamentos de estudantes do ensino superior!” que estejam na origem deste medo. No entanto, pensei que se não afixasse este pensamento com medo das suas possíveis repercussões iria estar verdadeiramente a dar-lhe razão. Qual não foi a minha surpresa que ao retirar este pensamento reparei que alguém tinha escrito “Concordo!” por baixo. Realmente não estás sozinho, não. Gostava que isto servisse de exemplo. Sim, todos nós queremos e estamos à espera desses pensamentos brilhantes, mas a verdade é que, se uma pessoa não se sentir à vontade para simplesmente dizer pastel de nata, muito dificilmente sentirá o à vontade para expor esse tal pensamento brilhante, que muitas das vezes não passa de um pensamento estúpido, idiota e ridículo à primeira vista. Enfermagem também se construiu aos poucos. Então não é que mesmo apesar da grande Florence Nightingale ter fundamentado as bases da nossa profissão em 1869, em pleno 2020, ano internacional do enfermeiro, esta não continua a dar muito que falar, ainda existindo muitos aspetos a melhorar? Realmente, sinto que esta Semana do Pensamento deu muito que se pensar…


David de Santa Cruz, 4° ano Colaborador do Núcleo de Formação e Cultura

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